Na porta do Jornal O Globo, às seis horas, nem parecia que a noite seria de mais um Encontro no Globo, ainda mais com a presença de Ethan Nadelmann e para o debate de um assunto tão polêmico. Seis e meia e o hall do coffee break está a serviço de qualquer eventual larica. Na porta havia uma fila de no máximo trinta pessoas, que subiram para auditório de dez em dez, já debatendo no elevador o que estaria por vir. Nada de público jovem, em sua maioria adultos e idosos, os espectadores foram atentos e participativos, mas nem tão numerosos, cerca de cem pessoas ou menos.
Nas cadeiras era possível perceber uma característica interessante, haviam muitos pais que vieram na companhia de seus filhos assistir à palestra. Talvez seja um sinal de diálogos muito mais palpáveis entre as gerações, ato primordial porém tão pouco pregado e praticado. Fato é que tanto pai quanto filho tiveram muito o que aprender ouvindo as palavras de Ethan. Logo no primeiro pronunciamento, ele que afirmou ter consumido maconha na juventude, fez questão de afirmar: "Além de inconseqüente e ineficaz, a política de drogas é hipócrita".
Palmas a parte, o que se pode observar sobre parte do público é que mesmo não concordando exatamente com nenhum proposta de “legalização” da maconha, muitos estavam ali para ouvir, dando assim ao menos a oportunidade de repensar o assunto. Na segunda fileira havia uma senhora de cabelos brancos que de forma cênica dizia que sim a tudo que estava sendo dito, em português ou in english. Já outros recusavam a todo tempo o que tentava dizer a doutora Maria Thereza Aquino. E não é por menos, afinal os 20 anos de experiência profissional dela na linha de frente do combate às piores mazelas da droga, não a permitem ter outra opinião que não a do verdadeiro medo da legalização, fazendo com que os argumentos acabem no senso comum já tão castigado. A opinião dela é importante para se entender passado e presente, mas do futuro quem fala é o americano, que expõe soluções a todas as perguntas, enquanto Maria diz ser “ficção” tecer hipóteses sobre a pena dos condenados, em cada de legaização.
Durante muito tempo com as pontas dos dedos posicionadas na testa, numa pose de evidente impossibilidade de conter a quantidade de evidências trazidas por Ethan, Maria Thereza deu voz a mitos e mentiras. Um bom exemplo é o fato de ela ter dito que a maconha não pode ser considerada uma droga leve, já que é mistura ao crack. Segundo ela, os traficantes vendem maconha misturada até com haxixe, o que gerou certo interesse de um ou outro expectador que se seguraram para não perguntar: onde? Já o crack misturado à maconha, famoso mesclado, é um mal que já debatemos aqui e sabemos que a maior ocorrência disto é proposital, ou seja, induzida pelo próprio usuário. Opiniões bem parecidas com as da doutora tem o jornalista Jorge Antônio Barros, que infelizmente não compareceu ao debate, perdendo assim a oportunidade de descobrir informações importantes não só sobre o ainda criminalizado mundo da cannabis, mas do seu perfeito viés para a legalização, já que o debate ganha força e sobretudo sabedoria.
Quase ninguém teve coragem de abandonar o evento antes do fim, quando Nadelmann fez questão de agradecer o trabalho das tradutoras. Ele não soube, mas num dos momentos em que falou “cocaine”, uma das tradutoras, movida por um possível vício, reportou “coca-cola”, ao invés de “cocaína”. A palestra durou cerca de duas horas, tempo suficiente para deixar extenso o gosto da abstinência de informação. Os comentários do público ao descer o já fechado prédio do O Globo nós não podemos acompanhar, afinal estávamos na redação do Globo Online, com o prazer de trocar uma idéia rápida com o jornalista Paulo Mussoi, que está no front do Sobredrogas, blog hospedado ao site da Globo. O balanço sobre o que ele achou da realização da palestra você acompanha aqui no Hempadão:
Excelente texto, parabéns!
ResponderExcluirmuito bom o texto!! queria ter assistido essa palestra!!
ResponderExcluircurto mto a linguagem que vcs do hempadão adotam para matar nossas laricas de informação. só uma observação: o vídeo não está pegando.
ResponderExcluirTá sim, doido...
ResponderExcluirTexto otimo e video idem.
ResponderExcluirProfissionalismo.
é, agora vamo ver o que o jornal vai escrever sobre isso.
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