[Ed. #22] Chapa2: A Droga nossa de cada dia!

por Marco Hollanda

O Chapa2 relata uma experiência pessoal. Na última sexta feira senti na pele os problemas de ter um corpo em processo de evolução. Sentei na cadeira do dentista para extrair dois sisos. Aqueles dentes que servem mais para causar dores do que parar triturar alimentos que matam a nossa larica.

Apesar do tom dramático do início do texto, a cirurgia foi tranqüila e os dois malditos saíram em menos de 15 minutos. Feito isso, descubro que tenho que tomar um verdadeiro bombardeio de medicamentos para evitar possíveis complicações do pós-operatório. É ai que a história vira tema do Hempadão.

A curiosidade jornalística despertou o interesse na leitura da bula daqueles comprimidos coloridos que fui obrigado a ingerir por 5 dias. Concluí que elas possuem letras tão pequenas para que ninguém tome coragem de ler as perigosas informações que ali estão escritas.

Na bula do Piroxicam descubro que o tratamento deste antiflamatório pode causar, dentre outras coisas, estomatite, anorexia, desconforto epigástrico, náusea, constipação, flatulência (essa é legal), diarréia, dor abdominal, indigestão, sangramento gastrointestinal, úlcera, cefaléia, tonturas, sonolência, insônia, depressão, nervosismo, alucinações, alterações de humor, pesadelo,  confusão mental, parestesia e vertigem. Para fechar com chave de ouro, as possíveis reações adversas do remedinho: a bula ainda informa que o mesmo “pode levar à insuficiência cardíaca e infarto do miocárdio”.

Isso tudo só em um remédio. A Amoxicilina completa o coquetel da morte com as seguintes reações adversas: náuseas, vômito, diarréia, colite pseudomembranosa e reações alérgicas (eritema maculopapular, eritema multiforme, urticária, síndrome de Stevens-Johnson, edema angioneurótico, broncoespasmo e anafilaxia). Anemia, trombocitopenia, púrpura, eosinofilia, leucopenia, agranulocitose, aumento de transaminases, candidíase vaginal, intestinal e oral, nefrite, hiperatividade, agitação, ansiedade, insônia, confusão mental, vertigem, alterações no comportamento também são possíveis de acontecer.

Sei que todos esses casos foram relatados em situações isoladas. A probabilidade de algum destes males acontecerem pela ingestão do remédio é realmente bem pequena. Mas a reflexão deste texto é relacionar tudo isso com a proibição da nossa cannabis. A Santa Erva é comprovadamente funcional no tratamento de diversas doenças como o câncer, além de ser um insumo industrial maravilhoso (resistente, de fácil cultivo e pouco poluente). Apesar disso, é demonizada em quase todos os países do mundo com o argumento de que seus efeitos colaterais não compensam seu beneficio médico/recreativo.

Tá bom. Mas o Caboclo fica confuso com o fato do Piroxicam e Amoxicilina, que podem causar todos os problemas relatados acima, estarem disponíveis em qualquer drogaria (que vende drogas!) do Planeta. Aqui no Brasil é possível  comprá-los até sem receita médica.

Nada contra os comprimidinhos coloridos que salvam a vida de muita gente (sem eles minha boca poderia estar toda inchada e sangrando sem parar). Mas se essa linha de pensamento fosse seguida corretamente, nosso matinho sagrado deveria estar disponível para consumo livre. É inegável que a Santa Erva tenha seus efeitos colaterais. Só que isso não é nenhuma exclusividade da cannabis. Outras coisas, com efeitos bem mais danosos estão sendo comercializadas livremente.

A reflexão sobre os motivos dessa proibição burra, nos leva de encontro a teorias da conspiração onde podemos relacioná-la a poderoso um poderoso lobby da indústria farmacêutica e de outras forças políticas que podem render uma história sem fim.

Acredito que não existe ignorância – mesmo aquela sustentada por poderosos interesses financeiros – que se sustente por muito tempo diante de um argumento inteligente. Como já dizia o cachorro preso por fazer apologia: “a estupidez é a essência do preconceito”.